minha cabeça não cala a boca. É quase um rádio travado no meio de duas estações, chiando, indo, vindo, relax (don't do it) tocando no fundo e no fundo - e no fundo!
Uma vez eu tomei um remédio pra parar de fumar. Fumei mais. Mas nunca fui tão feliz. Se hoje o trem tá em movimento um pouco eu devo ao abutrinho por 4 meses em 2019. Fiz umas 10 coisas que estavam paradas há anos, comecei novas coisas, socializei mais, foi mágico. O abutrinho, carinhosamente apelidado assim, (implorando para assim, não tinha como), calou as bocas excedentes da minha mente, as vozes mal sintonizadas, os pensamentos e com isso minha energia aumentou. De repente eu podia tudo, e pude mesmo, e até chorava de dó do antigo eu que não conhecia o abutrinho. Sofri tanto e minha vida poderia ter sido tão mais clara, tão mais fácil!
Mas a passagem do abutrinho não trouxe só sorrisos. O abutrinho me trouxe a crise hemorroidal mais terrível da minha vida. Mas eu estava tão bem que costumava até brincar: melhor o cu ou a cabeça em chamas? E escolhia deixar o cu fervendo, doendo, ria e dizia 'ai' porque o movimento ao rir causava dor. Quem teve hemorróidas talvez não possa entender essa escolha que soa insana e quem não teve não imagina a loucura que essa escolha é. Mesmo assim eu escolhi calar as vozes. Suspeitei que era o abutrinho, apesar de não constar na bula.
Mas aconteceu outra coisa também: minha memória virou pó. Peguei várias vezes fazendo aaaaahhnnnn pra pensar, pra falar... e um dia eu viajei. De verdade, fisicamente. E esqueci o abutrinho. E meu cu sarou. Aí, cabeçudamente, parei de vez com ele. A memória demorou para voltar ao normal, e as vozes reapareceram desde então.
Eu sou de novo o eu que eu sentia dó. O tombo do fim do relacionamento com o abutrinho foi aquelas quedas que você fica cambaleando e nunca que cai de vez, mas cai!, e é humilhação e dor física. E veio a pandemia, e vieram outros problemas mais graves, ano após ano, e foda-se eu. Decido muitas coisas o tempo todo e não consigo decidir coisas pra mim. Quando eu decido às vezes demoro tanto que não dá mais.
E a minha cabeça não cala a boca. Relax, don't do it.
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